quarta-feira, 8 de junho de 2011

VIOLÊNCIA EM ALAGOAS


A maior parte da grande quantidade de sangue derramado no mundo é devido à violência. Existem vários tipos de violência e, entre eles, a física que, como sabemos, pode ser exercida de várias maneiras.
             No Brasil, inicialmente povoado por degredados e, posteriormente, colonizado por uma elite de comportamento medieval e, consequentemente, de relacionamento vassálico ela começou muito cedo se agravando com os Ciclos Econômicos, particularmente no Ciclo do Açúcar, e ainda continua em disparada.
             A primeira referência à violência física em Alagoas encontra-se, acredito, nos "Anais ou Feitos da Companhia Privilegiada das Índias Ocidentais, desde o seu começo até o fim do ano de 1636", de Joannes de Laet.
No Livro Sétimo, referente ao ano de 1630, a página 109, diz: "Os habitantes de Alagoa são os mais robustos de toda a costa, fazem-se respeitar, não querem ouvir falar em polícia, exercendo eles mesmos a justiça, e matam os outros a faca, como se fossem cães".
               Como, na época, era conhecida como "Alagoa" a atual cidade de Marechal Deodoro, não vejo nenhuma temeridade em afirmar que com "Os habitantes de Alagoa...", de Laet se referiu apenas aos que ali residiam. Eram os mais fortes porque beneficiados pela rica e sadia dieta oriunda dos afrodisíacos ambientes que os circundavam.
             Também acredito que a primeira tentativa de crime de mando contra um alagoano ocorreu em 1º de abril de 1634, em Barra Grande, hoje a bela Maragogi. Nesta data e local, informava o então donatário da Capitania de Pernambuco, Diogo de Albuquerque Coelho, a página 197, de suas “Memórias Diárias da Guerra do Brasil”, Antônio Fernandes, em troca de “mercê que o contentasse”, devia assassinar, a mando de Matias de Albuquerque, o polêmico Domingos Fernandes Calabar. A tentativa não foi bem sucedida porque o assassino, “primo e coirmão” de Calabar, quando de seu intento, tropeçou, caiu sobre sua própria espada e morreu.
Ironia: quem devia matar foi quem, por acidente, morreu!
              Mas, qual o problema? Primeiro, é digno de nota a ancianidade da violência em terras alagoanas; segundo, por vários motivos, entre eles o lamentável desaparecimento da natureza pródiga de outrora, o desemprego e a fome os deodorenses não mais continuam tão saudáveis; terceiro, os crimes são cometidos pelos mais diversos tipos de armas; quarto, há muito que a violência extrapolou os limites da antiga vila e campeia, sem controle, por todo Estado; quinto, as tentativas de crime de mando sempre logram êxito.
              Só quando sairmos do Ciclo do Açúcar, isto é, acabarmos com a vassalagem a monocultura da cana-de-açúcar através da diversificação da atividade agrícola, e com o culto ao latifúndio, ou seja, transformá-los em pequenas propriedades produtivas tornando, assim, a terra um patrimônio de todos e não um privilégio de poucos, fornecermos condições aos cidadãos para que possam satisfazer suas necessidades básicas, enfim, resgatarmos a cidadania do sofrido povo alagoano, é que poderemos viver num Estado mais pacifista e humanista e que não possua índices sociais tão caóticos.

ALOISIO VILELA DE VASCONCELOS
Professor da UFAL

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